quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Um pouco sobre Lya Luft

A escritora é conhecida por sua luta contra os estereótipos sociais. "Essas coisas que obrigam as pessoas a ser atletas. Hoje é quase uma imposição: a ordem é fazer sexo sem parar, o tempo todo. A ordem é não fumar, não beber. É essa loucura o dia inteiro na cabeça. Quem não for resistente acaba enlouquecendo. E a vida fica para trás. Hoje as pessoas estão sofrendo muito. Um sofrimento absolutamente desnecessário. Especialmente as mulheres que fazem plástica logo que vêem uma ruga no rosto. Plásticas de inteira inutilidade". (Eu concordo plenamente com cada uma dessas palavras!).
Lya Luft deixa claro que nada tem contra as cirurgias plásticas, mas contra o rumo disso tudo. "Na ambição de serem sempre jovens, as mulheres acabam perdendo o próprio rosto. São os falsos mitos da juventude para sempre. E isso também inclui a febre atual da mídia, particularmente nas revistas femininas. Essa é outra coisa para o enlouquecimento. É tudo uma imposição". Eu, Giselma penso que envelhecer faz parte. Acho bacana ter certo cuidado, mas sem exageros. Devemos aceitar a idade, tudo são fases! E por mim, é por demais aceitável!
Quem é Lya Luft? Uma mulher gaúcha, brasileira, que faz o que desejava fazer: jogar com as palavras e com personagens, criar, inventar, cismar, tramar, sondar o insondável. "Tento entender a vida, o mundo e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender, mas tentar me dá uma enorme alegria”. Sou uma amadora da vida. (eu tbm!)
O que lhe causa repugnância? Preconceito, hipocrisia.
Vale a pena escrever? "Não escrevo porque “valha a pena”, mas porque me faz feliz, simplesmente". Pra mim, isso basta! Felicidade basta!
O que falta à literatura brasileira? "Nada, não falta nada. Ela é o que é, simplesmente, cheia de graça, desgraça, florescente, múltipla, lutando com a crise econômica que atinge também as editoras, mas, como não se escreve para ficar rico, tudo bem".Risos... Essa resposta é ótima!
E Deus? "Deus eu imagino como força de vida: luminosa, positiva, imperscrutável".
E o Brasil? Brasil cujo jeito é parecer não ter jeito. "Não quero jamais ter de morar longe dele. Aqui tudo é possível. E tanto está ainda por fazer". Concordo em gênero, número e grau!
O que fazer para reverter esse quadro de miséria? "Que os responsáveis por isso criem vergonha na cara". Bastaria...
Quem não merece respeito algum de ninguém? "Todos merecem algum respeito, no mínimo compaixão".
Você costuma rezar? "Não tenho nenhuma religião instituída, mas tenho uma profunda visão “religiosa”, sagrada, da natureza, das pessoas, do outro".
Qual é seu momento ideal para escrever? "O momento em que meu livro quer ser escrito. Mas normalmente produzo mais de manhã bem cedo. Gosto de ver o dia nascer, aqui na minha mesa de trabalho e do meu computador".
Lya Luft afirma que hoje prefere ficar quieta consigo mesma. Já casou demais. Já enviuvou demais. Não se imagina mais vivendo ao lado de ninguém. Mas não quer desprezar os encantamentos que surgem por seu caminho.
Sempre brinco: "Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso, porque já chorei demais..."
Sua visão do masculino é muito positiva. Foram três homens, na verdade, que a influenciaram e percorreram sua vida, erguendo seu rosto, seu percurso, abrindo seus rumos: seu pai, Arthur Germano Fett, que considerava um homem culto, amigo e também solitário; seu cúmplice, Celso Pedro Luft, de quem herdou o sobrenome; e Hélio Pellegrino. Isso não é lindo? Ligeira impressão que tudo valeu á pena!
Não faz tarde de autógrafos, sente-se desconfortável com isso. Não gosta de discutir teorias literárias, especialmente quando se referem à sua obra. Nunca pensou em tradição literária ou, especialmente, em tradição literária gaúcha. Não quer fazer literatura regional. Não quer ser representante de descendentes. Não quer pertencer a grupo nenhum. Quer mesmo é ser livre. (E tem coisa melhor?). Quer ficar quieta no seu canto.
No livro "Secreta Mirada", lançado em 1997, ela se deixou com ela mesma e discorreu sobre temas que nunca fala em discussões literárias, em entrevistas, depoimentos.
"Sou dos escritores que não sabem dizer coisas inteligentes sobre seus personagens, suas técnicas ou seus recursos. Naturalmente, tudo que faço hoje é fruto de minha experiência de ontem: na vida, na maneira de me vestir e me portar, no meu trabalho e na minha arte/ Não escrevo muito sobre a morte: na verdade ela é que escreve sobre nós - desde que nascemos vai elaborando o roteiro de nossa vida/ O medo de perder o que se ama faz com que avaliemos melhor muitas coisas. Assim como a doença nos leva a apreciar o que antes achávamos banal e desimportante, diante de uma dor pessoal compreendemos o valor de afetos e interesses que até então pareciam apenas naturais: nós os merecíamos, só isso. Eram parte de nós./ O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e fraquezas aparentemente superados, mas também com insuspeitada audácia e generosidade. E como habitualmente tem um fim - que é dor - complica a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa arrogância./ Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir, porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes./ A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura./ Às vezes é preciso recolher-se".
Gente, é tudo muito lindo! Nunca li nada assim, tão transparente, tão eu mesma!!! Leio e releio, não me canso, isso parece por demais comigo! Mesmos sentimentos, pensamentos, por fim. É admirável!

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